domingo, 9 de outubro de 2011

CIRIO 2011 - BELÉM PARÁ


Como um operário que acorda cedo para trabalhar, o fiel também faz o mesmo. Ainda na tradicional silenciosa madrugada, pelas ruas de Belém ouvia-se o som dos passos apressados rumo à Catedral, na Cidade Velha, ponto de partida da grande caminhada. Depois da missa campal, que teve início às 5h da manhã, o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira deu a benção aos filhos Maria.

Foram cerca de 3,6 km em um trajeto pelas principais avenidas de Belém. Durante o trajeto, Maria recebeu as tradicionais homenagens, entre elas a queima de fogos preparada pelo Sindicato dos Estivadores, no Boulevard Castilhos França. Mais a frente, já na Avenida Presidente Vargas, moradores enfeitaram as sacadas dos prédios e as repatições públicas e privadas promoveram uma verdadeira chuva de papel picado que coloriu o céu e transformou a paisagem do corredor humano por onde a imagem passava.

As crianças deram um ar angelical à procissão e vida às promessas de seus pais. Homens e mulheres de todas as idades carregavam nos ombros e em suas mãos velas, cruzes, livros, réplicas de casas e partes do corpo ou simplesmente uma imagem de Nossa Senhora, um agradecimento às graças alcançadas. 

Na corda, um dos principais símbolos da procissão do Círio, mãos e pés mais se entrelaçavam em uma caminhada árdua de esperança e gratidão, mas essencialmente de fé. Segundo levantamento feito pelo Dieese no Pará (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), mais de sete mil promesseiros distribuídos em 400 metros de corda puxaram este cordão umbilical que une a berlinda com a Virgem aos romeiros. Depois da benção do Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira, em frente ao colégio Santa Catarina, romeiros puderam levar para casa um pedaço deste 'amuleto' de fé.

Descalços, de joelhos, são inúmeras as manifestações de agradecimento à Virgem. Mas está enganado quem pensa que é preciso ter pernas para acompanhar a procissão ou pagar promessas. Já com 70 anos, em uma cadeira motorizada, seu Antonio Ribeiro, devoto de Nossa Senhora de Nazaré, tem dificuldade em falar e andar, mas acompanha todo o percurso do Círio há três anos. 'Todo ano eu venho, acordo cedo,  peço para alguém me trazer e com Deus e a Virgem de Nazaré vou até a Basílica', afirmou.

No caminho, histórias como a do senhor Manoel Raimundo. De joelhos, ao lado de sua filha, ele seguiu emocionado rumo à Praça Santuário. 'Há cinco anos, os médicos falaram que ele tinha um problema na coluna e ficaria sem andar. Ele paga a promessa durante todo esse tempo e nunca precisou sentar em uma cadeira de rodas', afirma Roseane.

Mas a emoção não toma conta só dos que vivenciaram de perto a grande romaria, onde a emoção é elevada ao infinito. Os sentimentos são multiplicados por milhões de corações espalhados por todo o mundo. Paraenses e devotos de Nazaré em Paris, Holanda, Alemanha, Guiana Francesa, Portugal, França, Itália, Moçambique, Inglaterra, entre muitos outros países, a quilômetros de distância, acompanharam esta grande festa de fé pelo Portal ORM.

Depois de quase seis horas de caminhada, exatamente às 12 horas e 10 minutos, a Imagem Peregrina de Nazaré chegou à sua morada, onde ficará bem perto dos devotos pelos próximos 15 dias. O coordenador do Círio, César Neves, teve dificuldades em abrir a Berlinda para retirar a Imagem Peregrina.

Com ela, milhares de fiéis com olhares apreensivos, emocionados, mãos aos céus, ouvidos atentos às orações que também eram feitas em silêncio, com pedidos ou agradecimentos. O povo de Deus unido em uma única certeza, a renovação da fé mariana em mais um Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Uma emoção que não se explica, apenas se sente.





Fotos: Alexandre Modesto, Rafaela Costa, Lidiane Sousa, Lag e Max Jr.
Texto: Lidiane Sousa
Redação Portal ORM